Pesquisa: Listar todos Insetos & Cia
  Boletim Informativo No.: 32

AS LATAS COMO VEÍCULO DA LEPTOSPIROSE MITO OU REALIDADE?

UM FOCO EM PRAGAS

AS LATAS COMO VEÍCULO DA LEPTOSPIROSE – MITO OU REALIDADE ??

Há cerca de um ano vem circulando na web um email com informações a respeito do alto risco da leptospirose, doença cujo principal vetor é o rato urbano, ter sido veiculada via lata de cerveja ou refrigerante, o que tem causado uma grande discussão.

O email a que nos referimos tem a assinatura de um engenheiro agrônomo, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Prof. Fabio Lopes Olivares o que acabou dando credibilidade ao assunto.

Para melhor esclarecer os nossos leitores fomos a campo e levantamos algumas infor-mações. Segundo a Sra Lucia Gracinda da Silva, que é doutoranda do Prof Fabio Olivares, com quem conversamos por telefone, esta mensagem não foi distribuida por ele. Na realidade, ele simplesmente a recebeu e passou adiante, por acreditar tratar-se de uma informação importante. Ocorre , que , ao fazer isso, automaticamente o email foi assinado por ele, o que gerou uma séria e polêmica credibilidade ao assunto. Para piorar as coisas esta mensagem foi redistribuída, desta vez, acrescida de mais um parágrafo que dizia que o pai de uma famosa modelo havia morrido em decorrência de haver ingerido o conteúdo de uma lata de cerveja que estaria conta-minada por leptospiras. Assim, travestida de suas cores ameaçadoras, este email passou a circular na Internet e , acreditamos, necessita de maiores explicações.

A Associação Brasileira de Alumínio (ABAL) está divul-gando em seu site www.abal.org.br que esta mensagem é falsa e embasa a sua afirmação com uma declaração do proprio Prof. Fabio Olivares informando que ele não assume a responsabilidade pela divulga-ção do referido texto na internet, chamando-o inclusive de boato.

Também é possível ter acesso a uma declaração do INMETRO informando não ter realizado até o presente momento nenhuma análise em latas de cerveja e refrigerantes.

Diante destas duas evidências fica claro que esta informação foi fabricada. Isto também não quer dizer que um fato como este não possa acontecer. A Leptospira icterohaemor-rhagiae, que tem sido a responsável pela transmissão aos humanos da leptospirose, via contato com urina de ratos, permanece viável em água por até 180 dias, sua multiplicação é ótima em pH entre 7,2 e 7,4, porém morre em 2 a 3 minutos se exposta ao ambiente seco. Se fôr ingerida, morre imediatamente ao entrar em contato com o suco gástrico. A possibilidade restante é a de que uma lesão na mucosa poderia permitir o ingresso desta bactéria no organismo via circulação sanguínea e, a partir daí ela se multiplicaria, alojando-se em um órgão do corpo. A situação descrita na web apesar de falsa no seu conteúdo deve servir como alerta e como modêlo para iniciar uma investigação científica. Os roe-dores, no caso a espécie Rattus norvegicus, que agem como vetores da leptospirose, estão realmente disseminados no ambiente urbano. O seu controle é extremamente difícil e há necessidade de investimento em assessorias especializadas, treinamento, adequação do ambiente, fechamento de entradas destes roedores, utilização de produtos químicos dentre outras medidas. Não é um trabalho simples. São animais extremamente adapta-dos ao homem, conhecem seus hábitos e se aproveitam , principalmente, da forma como o homem administra os seus estoques, o seu lixo, o seu ambiente de trabalho; da forma de armazenagem de alimentos de uma forma geral. Tenho presenciado, ao longo de minha vida profissional , uma série de não conformidades que per-mitem e favorecem o ingresso de roedores às habitações e construções humanas. Já conduzi vários ensaios de campo para observar o trânsito destes animais e todos eles indicam que as medidas anti-ratos, se bem orientadas e bem feitas, são um caminho fundamental na defesa contra estes animais. Pelo simples fato de que não é possível criar “ilhas” de controle pela existência um cordão de iscas raticidas ao redor da área a ser tratada. Medidas, de cunho defensivo, devem complementar esta ação, para que os resultados aconteçam.

A educação é uma delas e a web é um excelente meio de divulgar a informação. Infelizmente pode desinformar, também.

O saldo de toda essa discussão é positivo e podemos tirar algumas conclusões interessantes.

Em primeiro lugar, por que se colocou em discussão um tema a respeito do qual não há nenhum trabalho descrito, o que certamente despertará a curiosidade de algum profissional no sentido de buscar a veracidade dos fatos.

Em segundo lugar por que coloca em discussão um assunto muito importante e, a meu ver, bastante negligenciado, que é a forma de armazenagem de alimentos e suprimentos dos estoques de supermercados, atacadistas, pequenos mercadinhos, padarias e outros comércios, que estão vulneráveis ao ataque e presença dos roedores e que necessitam rever as suas políticas de estocagem e os recursos utilizados para proteger as mercadorias.

Um terceiro ponto positivo a se extrair desta mensagem é que realmente a higiene é fundamental. Se colocarmos na boca um produto qualquer retirado do estoque, sem a devida higienização, estaremos correndo o risco de sermos contaminados por algum tipo de bactéria. Não abrimos uma lata de conservas sem antes lavá-la com água e sabão. O mesmo hábito deve ser dispensado às latas de refrigerante e de cerveja.

Este excelente hábito de higienização não deve no entanto isentar os comerciantes de verificar as condições de armazenamento de seus estoques , de seu lixo, e verificar como anda o controle de roedores implantado. Todas estas medidas conjugadas irão garantir uma real segurança alimentar.

Lucia Schuller
Bióloga e Especialista em Pragas Urbanas (UNESP)




LEPTOSPIROSE NÃO É TOXINFECÇÃO ALIMENTAR

LEPTOSPIROSE NÃO É TOXINFECÇÃO ALIMENTAR

Devido ao grande número de e-mails que estão circulando, estamos relembrando os colegas o que é Leptospirose, para que se possa entender os mecanismos desta doença e a veracidade de alguns relatos veiculados pela inter-net.

A leptospirose é uma doença causada por um Espiroquetideo pertencente à família Spirochaetaceae, compreen-dendo 5 gêneros, Spirochaeta, Christispira, Borrelia, Treponema e Leptospira. Os últimos três gêneros possuem espécies patogênicas para o homem.

As leptospiras apresentam morfologia em forma de espiral com as extremidades em forma de ganchos, finas e longas, sendo muito móveis. São difíceis de se observar em microscopia comum, necessitando colorações ou impregnações especiais. Possuem duas espé-cies com muitos tipos antigênicos diferentes (soro-variedadades).

O gênero Leptospira foi criado em 1917 por Noguchi compreen-dendo espécies saprófitas e patogênicas. O grupo das saprófitas leva o nome de Leptospira biflexa, isolada por Walback e Binger em 1914 sendo seu habitat a água. O grupo patogênico leva o nome de Leptospira icterohae-morrhagiae e foi isolada por Ido e Inada em 1916. Atualmente a oitava edição do Manual Bergey’s considera a Leptospira biflexa como grupo não patogênico e a Leptospira interrogans como grupo pato-gênico.

São fácilmente cultiváveis em laboratório, multiplicam-se bem em meio com soro de coelho e água, são aeróbias, o pH ótimo é 7,4 e a faixa ideal de temperatura é de 25ºC a 30ºC, são lentas em sua multiplicação demorando até 68 horas de incubação.

Os quadros clínicos variam de graves, moderados a brandos. O mais grave é a doença de Weil, onde as leptospiras pene-tram pela pele ou mucosas, sendo o período de incubação de 2 a 20 dias. A doença evolui em três estágios. No primeiro estágio que dura uma semana, ocorre leptospiremia com febre de 40ºC, mal estar, debilidade, dor de cabeça, dor muscular e abdominal, dor de garganta e às vezes pneumonia, ocorrendo também icterícia. O segundo estágio da doença que também pode durar uma semana, é o período mais crítico , onde pode ocorrer a morte do indivíduo. Neste período a icterícia é intensificada, a tem-peratura abaixa um pouco (39ºC), apare-cem manchas e inflamação na parte interna do olho. Os pulmões e o trato gastrointestinal são afetados, acometendo também os rins, causando insuficiência cardíaca, provocando coma e morte com uma taxa entre 5% a 30%. A terceira fase também pode durar uma semana, e começa um declínio dos sintomas, diminuindo a febre, a icterícia e melhorando a função renal e cardíaca, tendo início a convalescença, durando de seis a doze semanas, sendo as leptospiras excre-tadas com a urina por um período de no máximo seis semanas.

Existe também a febre canícola, sendo uma leptospirose mais branda e mais rápida que a doença de Weil, onde a infecção é transmitida direta-mente ou através de água contaminada em contato com as mucosas do homem. Além destes dois quadros clínicos bem definidos existem outras leptospiroses que recebem deno-minações locais, como febre do canavial, febre do pântano, febre dos sete dias, febre dos campos de arroz, etc.

As leptospiras patogênicas (L. inter-rogans) são ampla-mente distribuídas entre roedores e mamíferos silvestres que são os hospedeiros naturais. O homem se contamina pelo contato direto ou indireto com estes animais. Nos ratos a taxa de infecciosidade pode exceder a 50%. Nos roedores as leptospiras perma-necem indefini-damente nos túbulos renais, e são difundidos pela urina. A contaminação pode ocorrer diretamente com a urina do animal ou através de água ou ambientes úmidos. Elas penetram no homem através de ferimentos da pele, mucosas, olhos, nariz, boca ou garganta. Possuem certa resistência no am-biente, permanecendo até seis semanas na água, a salinidade diminui o tempo de sobrevivência. A presença de material protéico e pH neutro ou levemente alcalino aumentam a sobrevivência no ambiente. Há uma diminuição drástica nos esgotos e água poluída, não sobrevive muito tempo nas fezes. O leite tem ação anti-leptospira, provo-cando lise e encur-tamento de sua sobrevivência. O fator mais importante no controle das leptospiras é o pH, onde raramente sobrevivem em pH ácido (abaixo de 6). Morrem em 10 segundos na tempe-ratura de 70ºC e em 10 minutos a 50ºC. São sensíveis também aos desinfetantes químicos utilizados, como os compostos clorados entre 100 e 200 ppm.

De acordo com estas informações, enten-demos que a leptospirose não é uma doença decor-rente da ingestão de alimentos contami-nados, secreções ou excreções de animais. É uma doença causada pela pene-tração dos micror-ganismos através da pele, mucosas, olhos, nariz, boca e garganta. È uma doença relacionada com certas profissões que expõe o indivíduo ao risco de se contaminar com excreções de roedores conta-minados, como agricultores, magare-fes, mineiros e manipuladores de esgotos. Existem referências também de contaminações em pântanos ou após enchentes, onde a urina dos roedores podem contaminar as águas de superfície e consequentemente as pessoas podem andar descalços e se ferirem com vidros, gravetos, pedras, abrindo caminho para as leptospiras. Do mesmo modo embalagens de bebidas, como as latas de bebidas e copos de água mineral, mal acondicionadas nos locais de venda ou em armazéns ou mesmo em estoques de bares, padarias e restau-rantes, podem ser contaminadas pela urina dos roedores (ratos). Estas latas ao serem abertas sob pressão, apresentam bordos cortantes que em contato com os lábios podem provocar micro lesões por onde penetram as leptos-piras, aumentando o risco de causar a doença. Não devemos esquecer que os indivíduos fumantes, podem apresentar microlesões cons-tantes nos lábios, devido à aderência do papel de alguns tipos de cigarros, colando nos lábios e rompendo parte da pele, podendo ser motivo também da conta-minação com o Herpes Vírus, o qual necessita de uma lesão para penetrar na pele e causar a infecção viral, sendo neste caso, necessário que o cigarro se contamine na lesão de um indivíduo e seja utilizado por outro sem a doença.

Para se evitar a leptospirose, é neces-sário evitar o contato da pele ou mucosas com ambientes ou água contaminada, não andando descalço em ambientes de risco.

No caso das latas de bebidas e copos de água mineral, deve-se lavar com água e sabão e mesmo assim não beber diretamente na embalagem. No caso de copos de água mineral, deve-se abrir a tampa metalizada e ao beber, fazer com que os lábios entrem em contato com a parte interna da tampa, rebatendo e dobrando-a sobre a borda do copo. Porém, como medida de segurança, é recomendado que se utilizem copos higie-nizados, canudos ou copos descartáveis embalados adequa-damente.

Dr Enio A da Silva Jr
Biomédico M. PhD



 

Criticas, sugestões e mensagens para ABC Expurgo Criticas, sugestões e mensagens para ABC Expurgo
Fale com a ABC
Fone: (011) 4330-6644
Email para ABC
info@abcexpurgo.com.br