Pesquisa: Listar todos Insetos & Cia
  Boletim Informativo No.: 28

HANTAVIRUS

 


HANTAVIRUS O ÉBOLA VERDE E AMARELO


Em 1997 um filme chocante chegou às telas do mundo inteiro - EPIDEMIA.


A estória foi desenvolvida a partir de fatos reais envolvendo o surgimento do virus Ebola, no Zaire, Africa. As cenas eram chocantes, mostrando pacientes com intensa hemorragia e que encontravam uma morte muito rápida. A situação foi gradativamente se descontrolando até que um herói cientista, protagonizado por Dustin Hoffmann, consegue elaborar um soro antídoto que salva a população de uma pequena cidade americana da total destruição, já que a solução encontrada pelas autoridades para conter o virus foi bombardear a cidade e matar todos os seus habitantes, potenciais disseminadores do virus.


No Brasil, ao contrário da ficção, tem ocorrido casos de uma doença com sintomas muito parecidos, que pode, eventualmente , vir a tornar-se mais um pesadelo para os brasileiros, só que desta vez bem real.


Trata-se da hantavirose, doença que já atingiu 15 pessoas desde 1993 quando o vírus foi detectado pela primeira vez, em algumas regiões do país, matando a maioria destas pessoas.


A hantavirose é uma doença transmitida pelo vírus Hantaan que vive albergado no organismo de determinadas espécies de ratos. Este vírus foi isolado pela primeira vez em 1976 e estava relacionado à Síndrome Renal.


Existem duas formas de manifestação desta doença - a Síndrome Pulmonar e a Síndrome Renal.


No Brasil todos os casos detectados foram relacionados com a Síndrome Pulmonar. Os sintomas evoluem muito rápido e se iniciam com febre alta, mal estar generalizado, inapetência, dores musculares generalizadas. Surgem então os sintomas mais graves caracterizados por um quadro pulmonar, com uma tosse seca e falta de ar. Os pulmões transformam-se em algumas horas em uma massa de sangue que vai sendo expelido pelo indivíduo, levando-o a morte.


Devemos nos preocupar com a Hantavirose? As autoridades sanitárias estão em alerta. Segundo informações prestadas pelo Dr. Luiz Eloi Pereira do Instituto Adolfo Lutz os últimos 4 óbitos ocorreram no Rio Grande do Sul, nas cidades de Vacaria, Tres Arroios, Gramado e Viadutos em dezembro de 1998. As espécies de roedores que albergaram o virus no Rio Grande do Sul ainda estão em fase de identificação. Segundo o Dr Luiz Elói o hantavirus na sua Síndrome Pulmonar está associado unicamente a espécies de roedores silvestres, que não se adaptam às condições urbanas. Na Síndrome Renal no entanto, já foi isolado o virus Seoul na espécie Rattus norvegicus, urbana por excelência, na cidade de Belém no Pará. Não foram, porém, observados casos humanos desta Síndrome.


Ao que se sabe até hoje a transmissão do virus, nas duas formas, somente se faz através da inalação de restos de urina e fezes ressecados de determinadas espécies de roedores silvestres. Segundo o Dr Luiz Elói as técnicas de armazenagem praticadas em nosso país, ainda muito primitivas, facilitam a presença de roedores e consequentemente do virus que eles transmitem. Ainda é muito comum a prática de se armazenar milho e arroz em cômodos dentro das próprias residências, para onde estes roedores são atraídos devido a farta fonte de alimentação. Os seus excrementos alí depositados são misturados à poeira doméstica e inalados pelos ocupantes da casa, que contraem o virus.


Como prevenir a Hantavirose.


A principal medida de prevenção da hantavirose é o controle da população murina(de roedores).


Este controle deve ser feito através do oferecimento de raticidas além da implementação de um Programa de Conscientização da comunidade no sentido de tomar uma série de providências que visam a evitar a presença de roedores junto às residências, das quais as mais importantes são:


1 - manter as habitações limpas e não amontoar grãos de milho ou arroz dentro de casa;


2 - eliminar todos os resíduos que possam servir de abrigo a roedores para construção de tocas e de ninhos;


3 - reduzir e se possível, eliminar todas as fontes de água para os roedores;


4 - evitar a presença de entulhos, restos de obra, restos de madeiramento, próximo às habitações;


5 - manter o corte de grama num raio de 50 metros ao redor das habitações;


6 - os alimentos que estiverem dentro dos domicílios devem estar guardados em latas , bem tampadas;


7 - todas as fendas nas casas que estejam abaixo de 0,5 cm de largura devem ser vedadas;


8 - as rações de animais domésticos devem também ser mantidas dentro de vasilhames, bem tampados;


9 - o plantio de grãos não deve ser feito a menos de 50 metros de distância dos domicílios;


10 - os restos de cultura não devem pernoitar no campo.


Atualmente , um fenômeno muito interessante está ocorrendo principalmente no estado de S. Paulo. As cidades típicamente indus-triais tais como a região metropolitana de S. Paulo estão sofrendo profundas modificações com a mudança definitiva de indústrias para diversos centros no interior do estado. Ao chegar lá, estas indústrias vão ocupar áreas rurais e muitas vezes constroem suas plantas em meio a uma série de áreas cultivadas com milho, soja, dentre outras culturas. O resultado disso é uma migração para dentro do complexo industrial de formas de vida não comuns nos centros urbanos, atraídas pelo abrigo, luz, água, calor e alimento. Em nossa rotina diária de trabalho temos observado estas migrações de insetos de uma forma muito intensa gerando problemas muitas vezes de difícil solução. Não sabemos se os roedores silvestres poderão se adaptar a estes novos vizinhos e passair a estrair deles sua fonte de alimento e de abrigo. Segundo o Dr Luiz Elói isto não é possível , pois as espécies que albergam o hantavirus tem padrões de comportamento muito definidos. Mas como em ciência o que é verdade hoje pode não ser amanhã, recomendamos que sejam tomadas todas as medidas de precaução possíveis no sentido de evitar a presença de quaisquer espécies de roedores nos arredores das instalações fabris.


As orientações acima descritas para as residências se aplicam perfeitamente a construções maiores e devem ser seguidas.


O controle de roedores é uma atividade que demanda muita organização, higienização e limpeza e , portanto, todas as iniciativas que puderem ser feitas para evitar um confronto direto seja com roedores silvestres, seja com roedores tipicamente urbanos, será benéfico.


 


Lucia Schuller Bióloga



LEPTOSPIROSE

SÍNDROME DO DESRESPEITO AO MEIO AMBIENTE


O mês de março está de volta, com suas águas e as doenças decorrentes. A mais importante delas, a Leptospirose.


    Todos assistimos aterrorizados pela televisão o desespero de irmãos paulistanos lutando pela própria vida contra as enchentes do Vale do Anhangabaú. A correnteza , em fúria, arrastava carros, empilhando-os como se foram de brinquedo.


    O que aconteceu? De repente todos os bueiros entupiram? Houve alguma modificação na cidade que permitiu que as águas subissem desta maneira este ano? Algum evento diferente que possa explicar este fenômeno?


    Esta semana, a revista Veja publicou uma matéria que vem iluminar muito esta questão - a grande problemática do lixo nas grandes cidades. Segundo a reportagem uma família de quatro pessoas deverá produzir 100 toneladas de lixo em toda a sua vida e não há, até o momento no Brasil, uma preocupação muito grande por parte de nossas autoridades no sentido de criar mecanismos industriais e educativos no sentido de prevenir o caos que poderá vir a se instalar nas grandes cidades em pouco tempo. Para onde levar tanto lixo?


    Este é um assunto que tem merecido pouca atenção por parte das autoridades e da população em geral. Ninguém se interessa em saber para onde vai o lixo. As pessoas simplesmente querem se livrar dele, sem muito questionar. Não faz muito tempo estava saindo de um grande atacadista em S. Paulo quando, no estacionamento, me deparei com uma fralda de criança cheia de excremento, aberta, jogada no chão. Este comportamento é no mínimo anti social , para não dizer, selvagem. As pessoas , não contentes em jogar todo tipo de lixo na rua jogam também produtos de sua intimidade.


    Na região do ABC, mais especificamente em S. Bernardo do Campo, foi feito um levantamento dos casos de Leptospirose que ocorreram no município durante o período de Janeiro a maio de 1996, época em que ocorreram diversas enchentes de grande porte no município e época em que os casos de Leptospirose levaram ao óbito 30% dos infectados com a doença. Trata-se de um trabalho de graduação em que foram cruzados diversos dados referentes a densidade populacional, número de linhas telefônicas por bairro, número de núcleos favelados, bolsões de enchentes, localização de riachos e córregos. Nesta ocasião foi feita uma série de fotos em logradouros importantes do município para observar, in loco, as condições favoráveis à proliferação de roedores, que são os principais transmissores da leptospirose. São Bernardo do Campo é um município inserido dentro de uma grande bacia hidrográfica, ladeado por dois grandes córregos - o córrego dos Meninos e o córrego do Taboão. Destes dois grandes derivam uma série de pequenos córregos que cortam a cidade de fora a fora, passando no meio de regiões industrializadas, residenciais e comerciais. Alguns poucos córregos são canalizados. A grande maioria não o é e suas margens são alvo de toda a sorte de agressões. A pior delas, a nosso ver, é a falta de uma estação de tratamento de esgotos no município, com a liberação de toneladas de resíduos orgânicos diariamente nestas águas. Em seguida, vem a falta de consciência da população, que atira toda a sorte de entulhos nestes riachos, sem o mínimo constrangimento.


    Nas regiões que são abrangidas pela coleta de lixo domiciliar é possível ver sacos plásticos de lixo orgânico jogados às margens dos rios. É possível também ver grande quantidade de entulho de obras jogados nas margens, criando inúmeros abrigos para roedores e aumentando as probabilidades de enchentes na cidade, com os prejuízos materiais e de vidas humanas. As fotos tiradas na ocasião falam por si próprias.


    Uma pesquisa feita junto ao Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de S. Paulo revelou números tristes da Leptospirose. Em 1998 foram 675 casos confirmados com 89 óbitos. Em 1999 o CVE já contabiliza 387 casos suspeitos com 12 óbitos até fevereiro de 1999. Se vierem as tão prometidas águas de março, as estatísticas para este ano prometem ser sombrias também.



UTILIDADE PÚBLICA

ENTREVISTA COM O DR ENIO ALVES SILVA JR.


    O Dr Eneo Alves Silva Jr. é uma personalidade bastante conhecida tanto no meio acadêmico quanto junto ao público de profissionais interessados em manter a sanidade dos alimentos. Ele tem se dedicado a anos ao Controle Microbiológico de Alimentos e, por isso, é fonte de referencia obrigatória de diversas entidades e grupos de estudo.


    O Dr Eneo Alves Silva Jr. é biomédico, formado pela Universidade São Paulo. É Mestre em Microbiologia de Alimentos e Doutor em Ciências, tendo como área de aplicação a Microbiologia aplicado à Higiene Ambiental, também pela Universidade São Paulo.


    Fez sua especialização e aperfeiçoamento na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa e na Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo.


    Trata-se de um profissional de grande conhecimento na área de microbiologia de alimentos que lhe rendeu inclusive o Diploma de Mérito Comunitário que é oferecido pelo SESC àqueles que de alguma forma contribuem com a sua especialização para o benefício da sociedade. Este aliás é, de todos os certificados recebidos, o que ele mais presa.


    O fenômeno da globalização tem facetas boas e ruins. Um dos seus aspectos positivos tem sido a disseminação de novas idéias a respeito da higidez dos alimentos. O forte movimento que invade o Primeiro Mundo tem também os seus reflexos no Brasil, alertando profissionais de saúde no sentido de aumentar a vigilância aos alimentos para assegurar mais saúde para a população. A médio prazo isto significa menos idas ao médico, menor ocupação dos profissionais de medicina para o tratamento de pacientes portadores de toxinfecções e, obviamente isto representa menos gastos para os cofres públicos. Trata-se essencialmente de um trabalho preventivo que a Vigilância Sanitária de Alimentos exerce no sentido de preservar a saúde e o bem estar da população.


    O Dr Eneo Alves Silva Jr é também empresário, presi-dindo um laboratório de análise clínicas e de alimentos. Além disso ele faz cursos para grupos técnicos , em empresas, universidades, instituições que de alguma forma estejam ligados a este assunto.


    Ele nos concedeu esta entrevista no momento em que lança a terceira edição de seu livro Manual de Controle Higiênico Sanitário em Alimentos.


 


I&CIA - No momento em que uma nova legislação e novas diretrizes estão sendo seguidas para melhorar a qualidade dos alimentos, fale-nos sobre o seu trabalho desenvolvido junto à Vigilância Sanitária que acabou resultando na Portaria CVS 13 e em mais uma Portaria que está a caminho.


    Dr. Eneo - Iniciei o meu trabalho junto a Vigilância Sanitária como consultor na Prefeitura de S. Paulo, no início da década de 90. Meu trabalho foi de colaboração no sentido de trazer a visão prática do assunto. Nesta época fazia os cursos de formação dos Núcleos de Fiscalização, tendo treinado 40 Núcleos em Higiene e Conservação de Alimentos. Fiz também um trabalho interessante junto a Prefeitura de Osasco em 1996. Periodicamente eu era consultado para participar destes trabalhos junto a outras entidades quando, em julho de 1997, fui chamado pela Secretaria de Saúde do Estado de S. Paulo para elaborar um texto que seria parte integrante do Curso Básico em Vigilância Sanitária que estava sendo elaborado por um grupo multidisciplinar. A minha contribuição seria a de preparar o texto do módulo CONTROLE HIGIÊNICO SANITÁRIO DE ALIMENTOS. O trabalho foi tão bem aceito que foi então decidido que ele deveria se transformar em uma Portaria que serviria para nortear de uma forma uniforme, o trabalho dos agentes vistores no Estado de S. Paulo.


 


I&CIA - A Portaria CVS 13 já está em vigor?


    Dr Eneo - Esta Portaria foi publicada em setembro de 1998 e, como é de praxe, foi disponibilizada para consulta pública, o que poderia gerar uma série de modificações. Esta consulta pública é feita no intuito de retirar todo o conteúdo do texto que eventualmente não pudesse ser aplicado ou que não fosse exequível. Tudo que estivesse dúbio ou subjetivo poderia vir a ser modificado. A partir daí, o Ministério da Saúde solicitou uma série de modificações que foram fundamentadas em duas razões principais:


1- Consideraram a Portaria um manual de recomen-dações o que vai contra as regras de elaboração de uma Portaria, que necessita ser uma regulamentação, em que tudo que está escrito é para ser cumprido.


2- Um outro motivo importante para estas modificações é o fato de que esta Portaria está sendo elaborada para que a fiscalização possa agir de um modo mais objetivo, priori-zando itens fundamentais a serem cumpridos. Assim, o texto passou por uma revisão que está sendo publicada nos próximos dias. Esta nova Portaria irá fornecer os critérios para o agente vistor e também para os responsáveis técnicos adequarem os seus estabelecimentos às novas rotinas. A Portaria não contempla os procedimentos. Cada um terá que elaborar os seus, dentro dos critérios exigidos nesta Portaria.


 


I&CIA - Quais são os estabelecimentos que esta-rão sujeitos a esta nova Portaria? Um mesmo estabelecimento poderá ser visitado tanto pela Vigilância Estadual quanto pela Municipal?


   Dr. Eneo - Já elaboramos um trabalho de pesquisa que esclarece definitivamente esta dúvida. Segundo a Lei nº 10.085 de 17/06/86 foi celebrado um Convênio entre a Secretaria de Estado de Saúde do Estado de S. Paulo e o Município de S. Paulo em que, em seu Anexo, na cláusula segunda, fica claro que à Prefeitura cabe a fiscalização das hortas, feiras, livres, vendedores ambu-lantes, mercados municipais, quitandas, mercearias, casas de ovos e aves, açougues e peixarias, casas de frios e laticínios, supermercados, docerias, sorveterias, restaurantes, bares, cafés, lanchonetes, pastelarias, padarias, veículos de transporte dos estabelecimentos citados. Ainda de acordo com a Lei 10.153 de 07/10/86 a fiscalização da Prefeitura será somente sobre os estabelecimentos varejistas de gêneros alimentícios. É possível concluir que os restaurantes de coletividade bem como as industrias que fabriquem alimentos que dependam de registro sejam fiscalizados unicamente pela Vigilância Sanitária Estadual.


 


I&CIA - De que forma esta seqüência de Portarias e Leis que se originaram a partir da Portaria Federal nº 1428 podem beneficiar o consumidor de alimentos no Brasil?


    Dr. Eneo - Estas novas publicações são normativas para combater melhor os agentes toxinfectivos novos, emergentes ou reemergentes. As bactérias sempre existiram mas hoje elas estão mais perigosas. Devido a mutações genéticas o seu poder de patogenicidade é maior e as toxinas produzidas são mais potentes.Isto é fruto da adaptação delas ao nosso meio, em que elas estão conseguindo se multiplicar a temperaturas cada vez mais baixas.


    Um outro benefício importante é a mudança de consciência do profissional de fiscalização e do manipulador que é obtida quando esta normatização entrar em vigor e se tornar uma rotina entre nós.


    Um terceiro benefício importante está ligado ao meio acadêmico. Estas novas regulamentações e e Portarias estão servindo para alterar os currículos nas Universidades capacitando melhor os profissionais de nutrição, engenharia de alimentos e veterinária. Esta nova Portaria deverá ser uma semente que está sendo lançada para iniciar o tempo de modernização dos processos de alimentos.


 

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